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Fidel se foi, mas persistirá imprescindível

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Na madrugada deste sábado a esquerda latino-americana perde o maior de seus ícones, o mais emblemático deles, que liderou uma revolução camponesa socialista, derrubando a ditadura grotesca sanguinária, corrupta de Fulgêncio Batista, um capacho dos Estados Unidos. Como se isso fosse pouco para a mais cinematográfica das revoluções socialistas, o comandante em chefe da Revolução cubana ousou ainda enfrentar o maior império contemporâneo, que representa o avesso de tudo que revolucionários cubanos sonharam ao desembarcar do exílio, no Granma, em 2 de dezembro de 1956, e se meter com seus companheiros em Serra Maestra, numa guerrilha que, ao mesmo tempo, alfabetizava camponeses nas letras e na luta até obrigarem Batista fugir no ano novo de 1959.

Sua morte foi anunciada pelas mídias golpistas centenas de vezes e tantas vezes desmentida que, hoje, ao ler a notícia ao acordar, corri para o Granma para ver se desta vez era real. Fidel sofreu inúmeras tentativas de assassinato pela CIA, algumas igualmente inacreditáveis, igualmente mirabolantes, talvez como modo de a direita internacional desacreditá-lo quando as denunciava e as comprovava.

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Hoje, a notícia de seu falecimento, aos 90 anos, ocupa as manchetes de todos os jornais do mundo. Morto Fidel é ainda mais potente e mostra o tamanho de sua importância, mesmo para os que odeiam o que o grande revolucionário representa: o socialismo, a revolução contra a barbárie, a unidade da esquerda, a solidariedade internacional, a luta anti-imperialista. Nenhum desses ideais morrerão com Fidel. Fidel continuará a ser imprescindível. Sem Fidel firme em Cuba após a queda da União Soviética certamente não haveria Chavez, não haveria esquerda na América Latina com o neoliberalismo varrendo tudo e decretando o fim da história.

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Mas, enquanto a espécie humana continuar, a história humana não tem fim e Fidel é Fidel, mesmo morto fisicamente continuará alimentando sonhos de uma terra onde o lucro não promova crimes ambientais como o de Mariana, obra da Vale/Samarco. Fidel continuará sendo o maior calo no sapato do Império de Tio Sam, não pelo poder bélico de Cuba que inexiste, não pelos ausentes recursos naturais do pequeno território cubano, mas por ousar exibir bem nas fuças da terra de Trumps uma sociedade sem analfabetismo, sem trabalho infantil, sem fome, sem desnutrição, sem controle de bancos e grandes corporações, com reforma agrária, onde todos têm direito à saúde pública, gratuita, universal (onde até os filhos de Tio Sam vão se tratar), uma medicina de ponta quando se trata de vacinas e de prevenção, onde o livro é quase de graça, onde todo primeiro de maio toda Havana de todas as categorias profissionais, mesmo após Fidel deixar de fazer seus longos discursos, acorda às 5:30 da matina para às 7 estarem todos a postos no maior Primeiro de Maio do mundo, celebrando o que Cuba se tornou depois de 1959: uma terra livre e dos trabalhadores.

Hoje não vou me ater às críticas, ao fato de Fidel permanecer no poder de 1959 a 2006, por exemplo. Todo o PIG gastará milhões de bytes e muita tinta com isso e com uma série de bobagens que Fidel nunca fez, ou disse. Mas todo o PIG jamais será capaz de entender uma revolução socialista nas fuças dos Estados Unidos e o que isso representa, o que representou o embargo a um país tão minúsculo e sem recursos.

Quero contar uma pequena história de um sonho que não se realizou. Esta semana estava em Salvador para um encontro regional com todos estados nordestinos para discutir políticas sociais e direitos humanos com companheiros de sindicatos cutistas, dirigentes cadeirantes, deficientes visuais e outras deficiências motoras. Terça-feira quando tivemos a noite livre, fomos para o Farol da Barra, sentamos num pequeno quarteto feminino e a companheira Valéria tentava nos convencer a ser brigadista em Cuba. Chegaram mais dois companheiros dirigentes que conheciam Cuba, toda a esquerda tem uma história incrível com este país e os causos foram relatados.

Ríamos, brincávamos com Valéria, companheira da área da saúde, uma sumidade em oncologia que, nos seus quase 60 anos, já compôs grupos de brigadas brasileiras pelo menos três vezes em Cuba, acordando às 5 da matina no acampamento dos brigadistas, subindo às 6 no caminhão que leva as brigadas internacionais para a área agrícola cubana trabalhando até às 12 e depois do banho e almoço encarando a sala de aula.

Eu dizia que, nesses tempos tão bicudos e de tanta desesperança, meu maior desejo era conhecer Cuba com Fidel vivo e que precisava me organizar financeiramente para esta viagem, porque Fidel não poderia me esperar por toda a vida, mas não saberia se teria resistência física pra conhecer Cuba como brigadista. Todos se contrapuseram, Fidel viveria para eu realizar o meu sonho. Os olhos de Valéria brilhavam e ela dizia que não há dinheiro no mundo que pague a felicidade que sentimos quando sabemos para onde foi o trabalho de nossa colheita: escolas, hospitais…

Este é um sábado triste, porque perdemos a maior sumidade da esquerda latino-americana, para mim particularmente, meu pequeno sonho individual não se realizará. Minha filha ao acordar, veio me dar um abraço, ela sabia o que eu estava sentindo. Lembrei imediatamente do brilho do olhar de Valéria a falar com tanta empolgação das colheitas em Cuba e suas experiências de brigadista.

Fidel se foi. Mas estranhamente fiquei com mais vontade ainda de pisar na Cuba que ele ousou reinventar, de me irmanar com meus companheiros cubanos, de experimentar na prática o que Fidel ensinou a todos latino-americanos da esquerda: a solidariedade é internacional. Quero compor esta brigada e celebrar o sonho da revolução em Cuba. Fidel segue imprescindível. Até a vitória, sempre, companheiro!

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